DOENÇA CELÍACA, ALERGIAS E DOENÇAS AUTOIMUNES: CHEGAMOS NA CURA? SERÁ?

Texto feito por Dr. Fernando Valério:
“A doença celíaca, alergias e outras doenças autoimunes seguem o mesmo fundamento, “A RESPOSTA IMUNOLÓGICA EXACERBADA CONTRA UM POSSÍVEL AGRESSOR E A NÓS MESMOS”. Até hoje tratamos estas alterações de duas formas: evitando o agressor, quando sabemos quem ele é, ou minimizando a resposta do nosso sistema imunológico através de medicamentos (corticóides, imunossupressores, anti-inflamatórios, antialérgicos).
Na verdade nunca conseguimos resolver os conflitos entre um agente externo e os nossos seguranças imunológicos. Nunca deixaram de ser inimigos!
Mas a ciência pode ter apresentado resultados extraordinários para resolver estas questões de “mau relacionamento”! Talvez estejamos diante de algo tão fantástico como a descoberta dos antibióticos! Mas antes de nos deslumbrarmos e criarmos expectativas exageradas, sugiro uma avaliação bem crítica do que foi apresentado e dito.
Na última semana, no Congresso da União Europeia de Gastroenterologia (em Barcelona), foi apresentado um estudo sugerindo a possível CURA para a DOENÇA CELÍACA. E por que esta doença foi a escolhida para o teste da nova tecnologia? Porque a doença celíaca é a única doença autoimune em que sabemos e controlamos o desencadeante, o GLÚTEN. Neste novo tratamento, a parte do glúten que nos agride, uma proteína chamada GLIADINA, é colocada dentro de uma minúscula partícula biodegradável chamada NANOPARTÍCULA. Quando injetada nos pacientes celíacos, esta nanopartícula apresenta a gliadina ao sistema imunológico destes pacientes, mas de maneira controlada, fazendo com que ele acredite que a substância é segura e não a agredindo. Ou seja, o medicamento proposto faria a RECONCILIAÇÃO entre as partes, fazendo com que vivessem em harmonia e tolerância.
Segundo os autores do estudo, isto que fez com que pacientes celíacos pudessem comer o glúten com a redução da resposta inflamatória. Pensando desta forma, esta tecnologia poderia ser aplicada para várias outras doenças como ASMA, ALERGIAS, DIABETES e ESCLEROSE MÚLTIPLA, por exemplo.
Só que quando se pensa em ciência, critérios têm que ser observados e respeitados. Este estudo ainda não está publicado para a visualização pública do meio médico, e o trabalho foi apresentado na última hora no congresso, não estando incluído na programação original. Não gosto quando a mídia sabe antes do que as publicações especializadas. Isto traz um viés de marketing e comércio não indicado nesta fase de pesquisa, ainda mais quando a tecnologia já foi vendida a um grande laboratório, como neste caso. Além disso, estudos sobre o desenvolvimento de medicamentos devem ser registrados e os resultados divulgados para a comunidade médica, e desde o período de captação de pacientes para a pesquisa. Não encontrei estes registros, mas gostaria de recebê-los caso alguém os possua.
Mas não fiquemos frustrados e não achem que não estou feliz com a notícia, pelo contrário! Estou radiante, mas acredito que algumas normas são importantes e nos trazem segurança. A tecnologia pode ser realmente promissora e está em estudo em grandes centros, seguindo todas as regras de registro de pesquisa e demonstrando os seus resultados publicamente a cada etapa. Tanto que o medicamento TIMP-GLIA, já está em uma segunda fase de estudos para os pacientes celíacos, usando a mesma tecnologia, sempre divulgando os resultados. Vamos aguardar a continuidade destas pesquisas e torcer muito.
Podemos estar realmente chegando lá!”

Créditos : Dr. Fernando Valério